Sou o Rio Grajaú

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Cachoeira do Viriato, Rio Grajaú (Foto: Diegon Viana Schreiner)

Em mim brota vida, nasci quando nasceu a vida. Hoje não sou vívido como antes, mas sigo andando pelo rumo que eu mesmo tracei. Sou dono da minha história, menos do meu futuro!

Batizaram-me com um termo Tupi, “rio dos Carajás”, e assim ao longo dos meus 560km, vi o tempo dos povos originais, Timbiras, Kanelas, Guajajaras e tantos mais. Era rei naquela época! Minha exuberância se mostrava em margens de vasta flora, com adornos de Piaçaba, Buriti e Jussara. Minhas águas traziam a certeza de abundância, repleta de cardumes.

Vi o branco chegar, com seu gado e plantação, com a rota de sal que abastecia o sertão. Ajudei os vareiros, que impulsionavam as embarcações, por minhas águas antes navegáveis. O Rio Santana, que sempre somou forças para que desaguássemos juntos no Rio Mearim, também desanima. Lamento que um dia talvez todos nós sequer encontraremos o mar.

Por onde passo ajudei a levantar as cidades de Grajaú e Itaipava do Grajaú, que ganharam meu termo Tupi e todo amor de pai, que se fez presente em suas criações. Também dou água sem cobrar e faço sementes brotarem nos municípios de Sítio Novo, Arame, Lagoa Grande do Maranhão, Marajá do Sena, Lagoa de Pedra, Paulo Ramos, Vitorino Freire e Altamira do Maranhão.Desculpe-me se esquecer de algum, os tempos são difíceis e começo a fraquejar. A todos peço que me amem, que lembre que estou vivo, não apenas quando estou em enchente. Pois estou em perigo!

Sou o Rio Grajaú, um rio de muitos poetas, que cresceu sem ter ninguém e hoje precisa de alguém, que me ajude a caminhar. Sou remanso, correnteza, que um dia foi pai, mas agora pede que me adotem como filho. Me olhem com o coração, pois para o bem de todos, preciso seguir andando, levando a vida comigo. Não mereço o castigo, de carregar a poluição dos homens em minhas veias, de ter meus leitos assoreados pelo desmatamento de minhas margens, de ver minhas nascentes sumindo. A morte me apavora, não quero ir-me embora!