Morreu na tarde desta quinta-feira (11), em São Luís, o grajauense Alan Kardec Gomes Pacheco; aos 90 anos de idade o alfaiate e músico sofria de mal de Alzheimer; nos últimos 50 dias, ficou na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital São Domingos.
Alan Pacheco foi um dos idealizadores do projeto Vila San Marino, e contribui para criação da banda de música municipal “Maestro Torquato Lima”; casado com Haydê Pacheco, e pai de 8 filhos, entre eles, o professor Alan Kardec Pacheco, o Pachequinho, que é membro da Academia Grajauenses de Letras e Artes (AGLA), ocupa a cadeira dedicada a Frei Alberto Beretta.
O velório será na casa da família na Rua Patrocínio Jorge; seu corpo deve chegar na madrugada desta sexta-feira (12); a missa de corpo presente está marcada para às 9h na Catedral Nosso Senhor do Bonfim, seguindo do sepultamento no cemitério público no centro da cidade de Grajaú.
Homenagens
Na sua página pessoal no Facebook, o filho, professor Pachequinho, postou homenagem no qual relata o amor do seu pai com a família, a dedicação na profissão de alfaiate e o zelo na música, missões que ao logo dos seus 90 anos soube cumprir com fidelidade e honestidade.
Veja o texto na íntegra
Alan Kardec Gomes Pacheco, meu pai, fez a passagem hoje, 11 /02/2016. Músico foi também professor das sete notas que encantam a alma do mundo, muito dos atuais componentes da Banda de Música Maestro Torquato Lima, de Grajaú foram seus alunos, outros estão espalhados pelo Brasil exercendo a difícil profissão de músico nesse país.
Alfaiate por mais de setenta anos, costurava a manga de paletó mais bem costurada do mundo. Zeca Falcão seu vizinho e amigo, pedia para ele avisa-lo todas as vezes que fosse executar aquela tarefa, segundo Zeca Falcão “a manga parecia que tinha nascido ali, não tinha uma prega, um engelhado”.
“Meu pai contava que quando iniciou seu aprendizado de alfaiate, um belo dia, seu Mestre lhe entregou 1 tostão e o mandou comprar um metro de morim, molha-lo para tirar a goma e depois de seco retornar a alfaiataria, pois ele iria forrar algumas calças com aquele tecido. Após realizar todas as tarefas, meu pai voltou à alfaiataria e entregou o metro de morim ao Mestre, que ao colocar o tecido sobre a mesa de cortes aproveitou para, sorrateiramente medi-lo.
Ao perceber que o metro de tecido havia se transformado em 99 cm, o Mestre então disse ao meu pai que ele havia comprado apenas aquela medida para ficar com a diferença em dinheiro.
O Mestre jamais havia imaginado a reação que provocaria naquela criança com pouco mais de 15 anos no início da década de quarenta do século passado. Meu pai se demitiu e exigiu um pedido de desculpas. Nunca mais voltou a falar com aquele senhor que lhe ensinaria a profissão que ele exerceu por toda a vida. Rancoroso, sim!!! Mas honesto!!!!”
É a lembrança desse homem honesto, extremamente bondoso, que auxiliou os lázaros intercedendo junto a dom Adolfo quando bispo de Grajaú, recebendo o dinheiro dado pelo padre para comprar os alimentos que o Antônio Fujão ia buscar lá na porta de nossa casa. Esse episódio insipiente é a célula da qual mais tarde nasceria o São Marino, local em Grajaú onde os lázaros são tratados pela Prelazia.
Vá em paz meu pai, vá ao seu encontro com Deus, encontro que o senhor sabiamente adiou tantas vezes, vá tranquilo, tenho certeza que ele está lhe esperando, vai mandar o senhor entrar, sentar, vai lhe oferecer um café, o senhor aceitará, e com certeza quando o senhor começar a sorver o café dirá: “o café está muito bom, mas se tivesse um pouquinho mais de açúcar estaria melhor”.
Antes que eu me esqueça, lembra quando outro dia lhe convidei para irmos ao Marabá e o senhor recusou mais uma vez, dizendo-me que não tinha nada para fazer no Marabá, queria ir era para Grajaú e me perguntou: “Nós vamos juntos até o fim não é?” e eu categoricamente lhe respondi: Sim, nós vamos juntos até o fim. Quero apenas lhe dizer, que a Aila, a Ceila, a Conceição, a Glória, o Giovanni, a Haydéezinha e a Tânia também estiveram juntas com o senhor até o fim. Um grande beijo e até um dia.