Amigos postando fofocas de festas animadas das quais você não participou; conhecidos registrando em fotos uma viagem para algum destino paradisíaco; celebridades mostrando seu cotidiano de luxo e agito. Se você passa seu tempo observando, passivamente, esse tipo de conteúdo no Facebook talvez já tenha experimentado uma sensação de tristeza.
E não está sozinho. Alguns estudos têm mostrado como a rede social pode afetar negativamente nosso bem-estar e provocar sentimentos como inveja.
Uma recente pesquisa da Universidade de Michigan (EUA) com a Universidade de Leuven (Bélgica), publicada no Journal of Experimental Psychology: General, analisou 84 estudantes universitários, que foram instruídos a usar o Facebook por dez minutos dentro de um laboratório e, em seguida, responder um questionário a respeito de suas emoções.
E os que usaram o Facebook passivamente, meramente observando as atividades e fotos de seus conhecidos ou pessoas famosas, se sentiam significativamente mais tristes e mais invejosos ao longo do tempo.
“Sabemos que a vida nos traz dificuldades; nos sentimos bem e nos sentimos mal. Se você está constantemente vendo como a vida das outras pessoas vai bem, vai se sentir pior quanto a sua vida (porque), em comparação, ela parece não ir tão bem”, explica à BBC Brasil o professor associado de psicologia Ethan Kross, coautor do estudo na Universidade de Michigan.
O jornal The New York Times chamou atenção para o fenômeno no recém-terminado verão americano, em meio às milhares de postagens de celebridades nas redes sociais exibindo suas glamourosas rotinas, em fotos de corpos perfeitos, cenários deslumbrantes e companhias igualmente famosas.
A ponto de ter sido popularizada a hashtag “medo de estar perdendo” (“fear of missing out” em inglês, ou #FOMO), usada nas redes sociais por pessoas chateadas por não estarem aproveitando as férias com a mesma aparente intensidade.
Versão ‘editada’
Mas a verdade é que poucos estão. É preciso lembrar que as redes sociais mostram uma versão “editada” de nossas vidas.
“Quando as pessoas postam no Facebook e redes sociais, tendem a postar coisas boas, como fotos bonitas delas em férias. Se você está usando passivamente o Facebook, o que você vê constantemente são esses acontecimentos positivos das vidas dos outros que não são um retrato fiel de suas vidas nem de suas rotinas”, explica Kross.
“Todos fazem de tudo para mostrar o seu melhor (na rede social). Quem teve um dia absolutamente banal não vai contar no Facebook”, agrega Luli Radfahrer, professor-doutor em Comunicação Digital da ECA-USP e consultor em inovação digital no Brasil.
Para ele, o Facebook substituiu a TV em termos de consumo passivo e pode fazer as pessoas perderem seu referencial.
“Se você vê sempre todas as pessoas muito felizes enquanto você está se sentindo frágil por qualquer motivo, aquilo vai deixá-lo triste – é instintivo. É como se você estivesse constantemente cercado por um grupo de pressão, que só te mostra o que faz de melhor”, diz.
As conclusões de Kross e sua equipe têm algumas semelhanças com uma pesquisa de 2012, da Universidade Utah Valley (EUA), com 425 estudantes universitários, que indicava que usuários de Facebook por períodos mais prolongados acreditavam que as outras pessoas eram mais felizes e tinham uma vida melhor do que a deles.
Uso ativo
O pesquisador americano acredita que efeitos similares possam ser observados no Instagram, ainda que não necessariamente nas demais redes sociais, como o Twitter.
E, de volta ao Facebook, a pesquisa de Kross não identificou queda no bem-estar das pessoas que usavam a rede social de forma mais ativa, ou seja, produzindo informações, conversando com outras pessoas, postando links e interagindo com os demais usuários.
Basicamente, o nível de bem-estar dos usuários ativos se manteve estável.
Agora, Kross e seus colegas querem estudar que tipo de uso da rede social melhoraria o humor e a autoestima dos internautas.
“O uso ativo – além de não impactar seu humor – pode ter outros efeitos positivos, como manter as pessoas informadas sobre o que está acontecendo em sua vida social e manter contato com as pessoas, o que traz vantagens para famílias, carreiras. Quanto a como ampliar as emoções positivas (no Facebook), vamos investigar”, diz.
Sua pesquisa aponta, também, que quanto mais as pessoas interagiam diretamente umas com as outras “offline”, mais seu humor melhorava ao longo do tempo.
Para Luli Radfahrer, uma forma de se proteger da tristeza causada pelas redes sociais é tentar ao máximo tomar consciência dos efeitos que elas provocam.
“O Facebook é algo novo e intenso. Primeiro, precisamos aprender a relativizá-lo em relação a seu ambiente social e seu conteúdo. Como muita gente moveu seu grupo social para dentro dele, o perigo é que passem a acreditar que o que acontece ali seja um retrato fiel do que acontece na vida real”, opina.
“E se você se sente mal (com os estímulos recebidos das redes sociais), uma sugestão é largá-las por um tempo, tirar um período sabático.”