Moro derruba sigilo e divulga grampo de ligação entre Lula e Dilma; ouça

Presidente teria enviado termo de posse a ex-presidente, o que evitaria prisão na Lava Jato

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A presidente da República Dilma Rousseff foi flagrada nesta quarta-feira (16) em um grampo telefônico da PF (Polícia Federal) em uma ligação telefônica às 13h32 de hoje para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na ligação, Dilma diz que vai enviar o “termo de posse” da Casa Civil para o ex-presidente a fim de “tê-lo na manga” para, supostamente, evitar uma eventual prisão de Lula na Lava Jato Acesse aqui o documento da PF com a transcrição do áudio.

A Operação Lava Jato monitorou conversas telefônicas entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que sugerem tentativa de influência no MPF (Ministério Público Federal) e no Judiciário.

“Trata-se de processo vinculado à assim denominada Operação Lava Jato e no qual, a pedido do Ministério Público Federal, foi autorizada a interceptação telefônica do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de associados”, registra o juiz Sérgio Moro, que ressalta que Lula sabia ou desconfiava que era monitorado.

— Rigorosamente, pelo teor dos diálogos degravados, constata-se que o ex-presidente já sabia ou pelo menos desconfiava de que estaria sendo interceptado pela Polícia Federal, comprometendo a espontaneidade e a credibilidade de diversos dos diálogos.

O juiz da Lava Jato remeteu o conteúdo referente a Lula para o STF (Supremo Tribunal Federal), após ele ser nomeado ministro da Casa Civil, nesta quarta-feira. “A interceptação foi interrompida.” O juiz registra que “alguns diálogos sugerem que tinha conhecimento antecipado das buscas efetivadas em 4 de março de 2016.”

Neste dia, o ex-presidente foi alvo da Operação Aletheia e levado coercitivamente para depor. Sua casa e a dos filhos passaram por buscas.

Influenciar

“Observo que, em alguns diálogos, fala-se, aparentemente, em tentar influenciar ou obter auxílio de autoridades do Ministério Público ou da Magistratura em favor do ex-presidente”, afirma Moro.

Ele pondera, no entanto, que “não há nenhum indício nos diálogos ou fora deles de que estes citados teriam de fato procedido de forma inapropriada e, em alguns casos, sequer há informação se a intenção em influenciar ou obter intervenção chegou a ser efetivada”. Um dos casos citados envolve uma ministra do STF.

— Há, aparentemente, referência à obtenção de alguma influência de caráter desconhecido junto à Exma. Ministra Rosa Weber do Supremo Tribunal Federal, provavelmente para obtenção de decisão favorável ao ex-presidente na ACO 2822, mas a eminente Magistrada, além de conhecida por sua extrema honradez e retidão denegou os pleitos da Defesa do ex-Presidente.

Há ainda citação do presidente do STF, Ricardo Lawandowski.

— De igual forma, há diálogo que sugere tentativa de se obter alguma intervenção do Exmo. Ministro Ricardo Lewandowski contra imaginária prisão do ex-Presidente, mas sequer o interlocutor logrou obter do referido Magistrado qualquer acesso nesse sentido. Igualmente, a referência ao recém nomeado Ministro da Justiça Eugênio Aragão (“parece nosso amigo”) está acompanhada de reclamação de que este não teria prestado qualquer auxílio.

Moro destaca ainda que fez essas referências apenas para deixar claro que as aparentes declarações pelos interlocutores em obter auxílio ou influenciar membro do Ministério Público ou da Magistratura não significa que esses últimos tenham qualquer participação nos ilícitos, o contrário transparecendo dos diálogos”.

— Isso, contudo, não torna menos reprovável a intenção ou as tentativas de solicitação.

O juiz da Lava Jato levantou sigilo sobre os áudios.

— Observo que, apesar de existirem diálogos do ex-Presidente com autoridades com foro privilegiado, somente o terminal utilizado pelo ex-Presidente foi interceptado e jamais os das autoridades com foro privilegiado, colhidos fortuitamente.

E remeteu a parte referente a Lula ao STF.

— Diante da notícia divulgada na presente data de que o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria aceito convite para ocupar o cargo de Ministro Chefe da Casa Civil, deve o feito, com os conexos, ser remetido, após a posse, aparentemente marcada para a próxima terça-feira (dia 22), quando efetivamente adquire o foro privilegiado, ao Egrégio Supremo Tribunal Federal.

Veja abaixo a transcrição da ligação:

Dilma: Alô.

Lula: Alô.

Dilma: Lula, deixa eu te falar uma coisa.

Lula: Fala querida.

Dilma: Eu tô mandando o “Bessias” junto com o papel para a gente ter ele e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?

Lula: Aham, tá bom. Tá bom.

Dilma: Só isso, você espera aí que ele tá indo aí.

Lula: Tá bom. Eu fico aguardando.

Dilma: Tchau

Lula: Tchau, tchau querida.