Para dar continuidade às matérias sobre festas juninas, o site Grajaú de Fato entrevistou o artista João da Cruz Atenas, conhecido por Atenas do boi Brilho da Noite. Conheça um pouco da cultura grajauense por meio desse simples artista que se diz grajauense de coração.
Nascido em Pedreiras (MA), pai de sete filhos, desses, cinco vivos; João da Cruz Atenas, 50 anos, é um grajauense de paixão; dono de cargos que os grajauenses mais próximos dele não conhecem. “Eu sou pintor, organizador e mestre de cultura popular do Grajaú e do estado do Maranhão e conselheiro suplente de cultura do estado do Maranhão”. Até o momento, sr. Atenas foi condecorado com dois títulos de cidadão grajauense. “Um eu ganhei do vereador Evandro Jorge. O outro ganhei do vereador Pedro Filho”, afirma com alegria e brilho nos olhos.
O sr. Atenas chegou em Grajaú em 1986, quando fundou o bloco carnavalesco Bafo da Onça, no bairro Expoagra. O nome veio do bloco carioca fundado em 1956, pelo carpinteiro e policial Sebastião Madeira. Bloco que chegou a reunir 1500 componentes na década de 60, no Rio de Janeiro (RJ).
Em Grajaú, Bafo de Onça teve continuidade na companhia dos amigos Nego Toin e Maria Cléa. Daí surgiu a vontade do sr. Atenas de trabalhar pela cultura grajauense. Para o artista, o incentivo da cultura em Grajaú depende do cenário político. Citou a atual administração municipal como “propagadora e conhecedora da cultura”.
“A principal personagem do cenário cultural de Grajaú se chama Rosa Soraida Nava”, frisou sr. Atenas. Questionado sobre o papel da juventude na cultura grajauense, ele respondeu: “a juventude é quem mais colabora com a cultura. O exemplo está em nosso boi Brilho da Noite, que tem seu corpo de dançantes composto por uma maioria jovem”, sublinhou. “Para que a cultura tenha futuro é preciso dar oportunidade aos jovens, como o boi Brilho da Noite faz. Nós incentivamos e ensinamos para que a juventude tenha amor pela cultura local”, disse.
Com o tema Viver Grajaú, o boi Brilho da Noite tem neste ano 58 componentes – sendo a maioria jovem. “Escolhemos essa temática porque esse ano o Brilho da Noite ressuscitou”, lembrou sr. Atenas. Para que tudo aconteça no mês de junho, os trabalhos do boi começam depois que terminam as festividades de carnaval. Em tom de tristeza, sr. Atenas lembrou que se não fosse pelo apoio da prefeitura e da secretaria de cultura, não existiria identidade cultural em Grajaú.
“Em Grajaú nós temos comerciantes, temos industriais, empresários, mas eles não apóiam a cultura. Não falo de apoio apenas para o Brilho da Noite, mas para os outros bois, os grupos de capoeira”, desabafou. “Quem trabalha com cultura não tem valor, nem dinheiro”. Afirmou ainda “que é preciso valorizar a cultura, pois sem ela ninguém vive”, exortou.
Sr. Atenas destacou a cultura como tarefa intrínseca ao ser humano e um fator importante para as regiões. Sobre a preservação dessa identidade, ele afirmou que as escolas deveriam trabalhar a cultura em suas grades curriculares. “Se a cultura local fosse incluída nas escolas, os idealizadores desse folclore poderiam lecionar e assim ela seria preservada com mais intensidade”, sugeriu. “Eu faria questão de dar aula, voluntariamente”, apoiou.
Sobre a identidade cultural grajauense, sr. Atenas disse que o bumba-meu-boi tem espaço muito restrito no sul do Maranhão. “Ainda não descobri porque o bumba-meu-boi não ganhou espaço no sul do Maranhão, na baixada maranhense ele é mais forte. É nossa identidade cultural, sem o bumba-meu-boi o que nos resta de cultura?”, se questionou. “Temos também o reggae que deveria ser outra identidade maranhense, porém também não é aceita”, lamentou.
Para exaltar o ‘renascimento do boi Brilho da Noite em 2008’, sr. Atenas compôs uma canção que o GF disponibiliza na íntegra:
Grajaú Terra Querida
Grajaú Terra Querida, de poderes absolutos
Raízes da minha vida
Árvores dos meus frutos
Não sou filho de Grajaú
Mas faço alguma coisa
É centro de maravilhas – aqui tem tudo
É berço de tradições que acalma nossas tristezas
E aumenta as emoções
Para muitos é a cidade do já teve
Como alguns são poucos os que diz
Porém eu não penso assim – aqui me sinto feliz
Ai Grajaú – como você é descente, por isso Grajaú
Vim lhe trazer um presente, meu boizinho mandingueiro, para alegrar minha gente