Quando surgiu o teatro? Com o surgimento do homem devemos supor, uma vez que ambos representam a existência.
O teatro, como muitos gostam de fincar, não surgiu na Grécia e sim se desenvolveu em vários lugares de distintas formas, porém foram nas polis gregas que esta arte veio a adquirir sistemáticas linguísticas e temáticas, originando daí o que hoje conhecemos por teatro.
No Grajaú, também, ao contrário do que todos imaginam o teatro não tem início nos anos de 1990 e sim muito antes, nas pesquisas empreendidas vamos encontrar os primeiros registros a respeito do teatro em Grajaú na década de 1920, geralmente possuindo um caráter religioso e estudantil (o que de certa forma permanece até hoje nos grupos de jovens e projetos escolares) já que as encenações eram representadas nos salões das escolas e clubes ali presentes, o que nos leva a supor que bem anteriormente a dramaticidade teatral era praticada pela sociedade grajauense.
Estes vestígios nos dão um ponto de partida para o que há algum tempo praticava-se em Grajaú e que teria seu auge, mesmo nos tempos de hoje, com a produção de “Independência” peça cívica de um ato em verso escrita pelo poeta, teatrólogo, escritor, jornalista, advogado, Bacharel em Direito, o grajauense caudilho sertanejo Candido Pereira Souza Bispo, ou simplesmente Souza Bispo, levado em cena pela primeira vez em 1920 no teatro da escola de Antônio de Pádua em Grajaú vindo a ser publicada um ano depois em São Luís, recebendo elogios de várias personalidades da época a citar Lima Barreto e Padre Dubois:
Já na década de 30 sabemos por intermédio de Raimundinho Assunção da ativa manifestação artística teatral, este que leva em cena juntamente com Celso Cardoso em 1938 o drama “Henrique IV Nero do Norte” uma peça de quatro atos em comemoração ao lançamento da pedra fundamental da Catedral Nosso Senhor do Bonfim.
Ainda de acordo com Raimundinho – naquela época (da década de 30, 40), nós fazíamos muitos dramas –, como é o caso de “Deus e Alá” uma peça de três atos representada em comemoração aos concludentes das instituições escolares do período em destaque, ele nos revela ainda que nos intervalos das peças havia palco rápido com cançonetas e esquetes como é o caso de “O Sonambulo” e “O Conde e o Barão”, este ultimo representado por Raimundinho e Rosalva:
[…]
Barão: Vá na casa de minha noiva Carolina de Sá Leitão levar as caçarolas, repete.
Empregada: Ir na casa de Dona Caçarolinha de Assar Leitão. Mandar melesteque (pastel), custelete de porco, papo de peru com tripa e tudo.
[…]
Em 1970 é inaugurado o Cine Teatro, uma obra da Igreja Católica que trouxe lazer e entretenimento ao povo grajauense, passando filmes de “bang, bang”, como também realizando apresentações teatrais, desenrolando-se as cenas no Palco Italiano, estilo de palco que surgiu na virada do século XV para o século XVI, no que chamamos de Renascimento.
Este estilo de palco caracteriza-se pela disposição frontal do palco/plateia, como também pela introdução do “ponto de fuga” e “perspectiva”, assuntos que já vinham sendo discutidos na sociedade renascentista, além desses termos outros passaram a serem usados como “boca de cena”, “coxia”, “fosso da orquestra” “cortinas” “ribalta” “proscênio” “quarta parede” e demais, que também se fazem presentes na estrutura idealizada para o Cine Teatro.
Outra construção de Grajaú que dispõe de algumas características deste tipo de formação de palco, além é claro dos auditórios escolares, é o Clube Recreativo Grajauense, sempre solicitado para eventos culturais, festivais e festividades.
Os registros históricos encontrados nos levam a mais um salto, a partir de 1986 grupos de jovens aparecem sob várias siglas, como é o caso de JASS – Juventude Atuando Sempre Servindo –, JUCRIS, JUFRA, JUFRED, JOSEP, Infância Missionária entre outros.
Estes grupos que existiram e existem até hoje, com os mesmos nomes ou não, pelas paroquias da cidade, exercendo a prática teatral especificamente na Semana Santa, com a encenação da Paixão de Cristo, ou Via Crucis, pelas ruas de Grajaú.
Os grupos teatrais dissipavam-se e surgiam, alternando anos em anos, ora pela falta de comprometimento, ora pela falta de incentivo e verba. No final dos anos 80 surge o grupo TEAGRA – Teatro Grajauense, tendo como alguns integrantes Vânia Monteiro, Antônio Santos Baiano, Katia Rossana, Paulo Capoeira, Lulu Alvarenga dentre outros, trazendo trabalhos teatrais a exemplo de “Brasil o que será de ti?” e “Aprendizes da Esperança” apresentada também em Balsas, tendo o seu auge com a peça “Abolição” de 1988.
O Grupo Arte’s Sombra aparece nos anos 90 apresentado trabalhos como: “Meteoro, aqui vou eu” que contava a aventura de um peteleco na Amazônia de 1994, além de “O Tempo não para” de 1995, geralmente apresentadas no Cine Teatro Frei Lauro, sendo que as peças também percorriam cidades vizinhas, tendo como alguns integrantes Antônio Santos Baiano, Kátia Rossana, João Santos, Marcia Martins Rocha, Mauro e Nonatinho Jorge, Marcela Martins, Francisco Cruz, Fernando Araújo, Alessandra, Lauro Lafaeth…
Formando durante anos talentosos jovens atores e atrizes que passaram pela companhia, a citar Antônio Marcos Monteiro Barros, Adriano, Rosana, Serginho, Eliude Barbosa, Marcelo, Rayner Frazão, Same Barros, Daiana Kelly, Davila Amorim, Antônio Ferreira, Thays Araujo.
Já no século XXI dois trabalhos do Grupo Arte’s Sombra se destacaram, são eles “Norte e Nordeste” e “Paixão de Cristo”. O primeiro uma encenação das lendas e folclore dessas duas regiões do Brasil que percorreu varias cidades.
O segundo é a peça sobre a vida de Jesus Cristo, que apresentada originalmente no Cine Teatro teve o seu auge quando ganhou o titulo de maior espetáculo a céu aberto do Sul do Maranhão quando encenada no Parlatório Arruda Filho, alcançando um grande numero de espectadores, hoje em dia voltou a ser dramatizada em seu local original.
Em 2005 a Secretária de Cultura do Município promove a Noite dos Ilustres, tradição que segue até hoje, com o objetivo de homenagear ilustres grajauenses através de uma produção biográfica e dramatização da história e vida do homenageado, destaque também para o projeto Serestas e Serenatas que entre os anos de 2011 e 2012 percorria as ruas de Grajaú com canções e encenações de poesias.
Outro grupo que também se destacou nos anos 2000 foi a Cia Fazer Acontecer, sendo idealizadores Fabio Crisostomo, Katia Rossana, Francisco Cruz, Fernando Araújo, José Divino Onassis sempre atuando e envolvidos com os projetos escolares e municipais, a citar feiras literárias, Festas Juninas e 7 de Setembro.
No ano de 2011 o Grupo Artes Sombra apresenta o trabalho em comemoração aos 200 anos de Grajaú com a encenação no Porto Limoeiro da chegada do Alferes de Milícia Antônio Francisco dos Reis e os conflitos que desta colonização derivaram-se.
Ainda neste mesmo ano, no mês de abril, em decorrência do aniversário da cidade, o Grupo Em Cena tendo como integrantes Felipe Barreto, Isadora Afonso, Claudiana Atenas, Messias Sayssem, Daiana Kelly, Ricardo Tamanini, Gianna Cortez e este que vos escreve realizam no Clube Recreativo o projeto “Rica Perola” com encenações de passagens da história e cultura de Grajaú.
No decorrer da década de 2010, com o advento dos Institutos Federais e demais Universidades Publicas e Particulares, muito devido aos programas e incentivos voltados para educação, provenientes da esfera federal na época citada, a história, a cultura, e consigo a arte puderam voltar a respirar novamente, dando frutos, como é o caso do Grupo Mimeses, do Instituto Federal – Campus Grajaú, sob a coordenação da Professora Rafaela Guimarães o grupo vem desenvolvendo vários trabalhos a citar “Gato Preto” adaptação do conto de Edgar Allan Poe, “Vícios” baseado em “O Mulato” de Aluísio Azevedo e “Pregoeiros do Nordeste e a história de Romueu e Juliette”, apresentando-se tanto em Grajaú como em cidades circunvizinhas e de outros estados, além é claro São Luís, capital do Maranhão.
Através deste pequeno histórico podemos perceber como quão importante é a manifestação artística, uma vez que a mesma revela traços da nossa sociedade, identidade e mantém ativa a consciência critica isto que desde o inicio o Teatro se propôs a fazer, trazendo singela e ferozmente, cômica e ardente, obscura e cruel, todas as faces da humanidade colocando-se frente a si mesmo.
PESQUISA E TEXTO:
THALLES BARRETO.
FONTE ESCRITA:
BIBLIOTECA NACIONAL.
OPÚSCULO HISTÓRICO E FISIOGRÁFICO
DO MUNICIPIO DE GRAJAÚ.
FONTE ORAL:
RAIMUNDO ASSUNÇÃO CUNHA
TONY SANTOS BAIANO
FRANCISCO CRUZ.