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Crônica: Sem tesão há o que então?

ALINE RODRIGUES

Sem tesão não há solução, essa afirmação polêmica, magnífica e muito mal interpretada, com a qual concordo plenamente, não é minha, é do genial Paulo Freire. Posso dizer que eu não só concordo com esse pensamento, como também afirmo categoricamente que sem tesão estamos todos perdidos e mal pagos, pois não há alegria que nos satisfaça, ou emoção que seja verdadeiramente vivenciada sem essa vontade genuína e ardorosa.

E antes de me julgarem como uma leviana depravada, dispam-se do preconceito quanto a essa palavra tão marginalizada, e, por favor, encarem que o contexto aqui abordado é de um significado mais amplo, que vai além do desejo sexual, embora este seja uma necessidade inegavelmente fundamental. Falo do tesão pela vida, pelo ato de sentir com todas as suas nuances de alegria e tristeza que pressupõe a montanha russa de emoções em que todos nós damos as nossas voltinhas, pois embora sorrir seja uma delícia, chorar é necessário para valorizar e reconhecer a felicidade.

Falo de viver com paixão, até mesmo nas mínimas coisas que nos rodeiam. Quero ressaltar a importância do ato de se desejar pelo desejo puramente, na sua forma mais instintiva e, portanto verdadeira. Agora, dito tudo isso, pergunto: Sem tesão, há o que então? Contrariando o hábito feminino de responder uma pergunta com outra, serei objetiva na minha resposta… Senhoras e senhores, sem tesão há a frieza da monotonia e a mesmice entorpecente do tédio. E nada é mais triste do que uma vida morna, sem entusiasmo, sem paixão, sem vontade, sem fervor.

Reprimir a vontade, o desejo intenso que deveria estar presente em tudo o que fazemos e vivemos, é condenar-se a uma existência estática, apagada e insossa. Viver sem tesão é praticamente um pecado, e francamente acredito que toda falta de vontade pela vida não é e nem será perdoada. E não me venham com a ideia de que estou exagerando na amplitude desse sentimento, observem e verão claramente que nada pode ser integralmente realizado sem que haja uma real vontade que nos impulsione, e inegavelmente há um conceito absoluto envolvido no querer, não há como desejar mais ou menos, assim como ninguém quase vive, quase ama, quase é livre ou quase é feliz.

Cabe a cada um de nós atiçar e alimentar o seu tesão pela vida, e assim despertar o seu próprio prazer de viver. Afinal, mesmo que seja difícil reconhecer e aceitar, cada um de nós sabe muito bem o que nos faz arder. Então meus amigos, busquem seus afrodisíacos e mantenham-se desejosos, tesudos por suas vidas, acendam a sua disposição, e assim gozem plenamente as suas escolhas com a mais intensa e autêntica vontade de irem além do mero existir, mas de fato ferver e só assim poder realmente viver.

*Aline Rodrigues é funcionária pública no Detran-DF. Filha do grajauense João Éden Rodrigues Lima

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