ALINE RODRIGUES |
Se você assim como eu passa por um momento de profunda descrença política, alimentada pela corrupção escancarada, pelas promessas descumpridas, e pela triste constatação, de que temos escolhas miseráveis a fazer e um futuro incerto pela frente, seja muito bem-vindo ao grupo dos indecisos políticos quase que por falta de opção.
Entre o ruim e menos pior, fica difícil mesmo decidir; pensei seriamente em escolher o nada, mas aí, a minha bendita consciência acusou sumariamente que me abster é um ato de covardia, que omissão não tornará nada melhor.
Confesso que não ando com muita paciência para discutir política com os seres viventes à minha volta, talvez por uns apresentarem convicções demais e eu francamente não conseguir enxergar toda essa firmeza e coerência nos discursos e atitudes por parte dos nossos candidatos.
Pois bem, ficar calada nunca fez o meu estilo, mas já que não quero conversa sobre política com nenhuma pessoa viva, imaginei um franco diálogo com algo menos politicamente incorreto que o ser humano, mas que também não seja de todo neutro, afinal de indecisa basta eu, então imaginei uma conversa com a urna.
Afinal na hora H é com ela que vou estar cara a cara, é pra ela e só pra ela que vou confessar enfim a minha decisão, a minha fatídica escolha.
Você já parou pra pensar, e se a urna falasse? Imaginem aquele candidato falastrão sabendo, que não recebeu o voto nem mesmo da sua mãe… Vai ver por isso boca de urna é proibida, desculpem o trocadilho infame, não resisti. Mas pensem se a urna pudesse mesmo falar… Céus seria o fim do voto secreto, se é que isso de fato existe nesse mundo de total leviandade e super exposição de opiniões.
Vejo as pessoas fazendo declarações quase apaixonadas sobre a escolha dos seus candidatos, e francamente quase as invejo. Meu Deus, estou tão desiludida politicamente, que não só não consigo fazer campanha pra quem quer que seja, como até sinto minha face corar de vergonha ao tentar me imaginar levantando a bandeira de qualquer candidato da atualidade.
Francamente eu não espero um salvador da pátria, um herói ou heroína capaz de liquidar de uma só vez com todos os problemas do nosso país, mas ao menos uma vez, eu realmente gostaria de ver alguém tentar lutar de verdade pela nossa gente tão sofrida.
Nessa minha ausência de expectativas, confesso que já ficaria quase satisfeita se ao menos um dos candidatos ou dos eleitos ao poder fosse capaz de me fazer acreditar novamente que dias melhores virão no cenário político do nosso país.
É, o meu diálogo com a urna seria de uma tristeza imensa, talvez eu a convidasse pra tomar um porre e afogar as mágoas por toda essa pobreza de perspectivas que a cada governo se perpetua.
Seria um porre memorável com certeza, com o espírito de que mudando ou não o chicoteador, o chicote em si, permanece sempre o mesmo. Pelo menos até o povo fazer valer a máxima do imortal Rui Barbosa e enfim aprenda a apreciar em ter o cabo do chicote em suas próprias mãos.
*Aline Rodrigues é funcionária pública no Detran-DF. Filha do grajauense João Éden Rodrigues Lima. Artigo publicado no jornal impresso, edição 18